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Autoridades brasileiras pedem adiamento das mudanças de privacidade do WhatsApp
As agências desejam que o serviço de mensagens trate de pontos relacionados aos direitos do consumidor e à proteção de dados, bem como à concorrência.
As autoridades brasileiras pediram ao WhatsApp para adiar a introdução de sua nova política de privacidade nesta semana em meio a preocupações com proteção de dados e direitos do consumidor.
O pedido foi feito nesta sexta-feira (7) pela agência de proteção de dados ANPD, o órgão nacional de defesa do consumidor Senacon, o Ministério Público Federal e o órgão de fiscalização da concorrência Cade. O WhatsApp e seu dono, o Facebook, devem responder aos pedidos do governo hoje (10). O descumprimento pode implicar em ação do Ministério Público Federal para garantir o cumprimento e a proteção dos direitos coletivos, além de outras medidas que venham a ser aplicadas por outras autoridades brasileiras.
Entre as recomendações das autoridades brasileiras, está o adiamento da implantação da política de privacidade, que entrará em vigor no sábado (15), até que uma série de pontos que surgiram durante o escrutínio dos órgãos sobre a nova estrutura de privacidade sejam tratados.
Além disso, as autoridades brasileiras querem que o WhatsApp continue prestando o serviço sem restrições aos usuários que se recusem a aceitar a nova política, incluindo a manutenção de contas de usuários, bem como seus registros de mensagens e arquivos. Além disso, as autoridades solicitam que o Facebook se abstenha de tratar ou compartilhar dados de usuários do WhatsApp de qualquer forma com base na nova política de privacidade até que a empresa de mídia social receba luz verde das autoridades.
O documento emitido pelas autoridades brasileiras afirma que a política de privacidade e as práticas de tratamento de dados delineadas pelo WhatsApp podem representar uma violação dos direitos de dados pessoais dos usuários do serviço de mensagens. Do ponto de vista de defesa e proteção ao consumidor, os órgãos observaram que o WhatsApp não forneceu informações claras sobre quais tipos de dados serão tratados pelo WhatsApp e a finalidade de tais procedimentos.
As autoridades também expressaram preocupação com os efeitos potenciais sobre a concorrência decorrentes das políticas do WhatsApp, dada a falta de um desenho regulatório anterior e que não há alternativas significativas para os serviços do Facebook. Na semana passada, o WhatsApp relançou seu serviço de pagamentos no Brasil quase um ano após sua suspensão em meio a preocupações dos reguladores sobre possíveis ameaças ao sistema financeiro nacional.
A solicitação segue uma onda de respostas da sociedade civil em todo o Brasil e na América Latina sobre as mudanças de privacidade que estão por vir e uma coalizão global envolvendo cidadãos, ativistas e legisladores pedindo que o Facebook reverta sua decisão de mudar a política de privacidade do WhatsApp e capacitar os usuários a proteger seus dados pessoais.
As novas políticas do WhatsApp não cumprem a lei geral de proteção de dados do Brasil, que foi introduzida no Brasil em 2020 e define como os dados pessoais devem ser coletados, armazenados, usados e excluídos no país, de acordo com Francisco Gomes Júnior, um advogado brasileiro focado em lei digital. Segundo o especialista, cabe a cada indivíduo gerenciar quando e por quem seus dados podem ser utilizados, e o aplicativo de mensagens não atende a esse princípio de consentimento do usuário, fundamental para o compartilhamento de dados pessoais.
“O WhatsApp, aparentemente, não quer oferecer escolha ao titular dos dados pessoais. Já existem dúvidas administrativas e de defesa do consumidor sobre esses novos termos, mas até o momento não há indícios de que o WhatsApp aceitará negociar mudanças para se adequar aos dados brasileiros lei de proteção e direito de escolha do usuário ”, observou.
Em abril, o órgão de defesa do consumidor Idec notificou diversas autoridades brasileiras com dúvidas não respondidas sobre direitos de privacidade e proteção de dados , o que levou às últimas recomendações do governo - no entanto, a forma como as autoridades do país estão tratando o caso é considerada insuficiente, uma vez que não movimentos reais em direção à intervenção foram feitos.
“[As solicitações do governo] não são vinculativas, pois [WhatsApp e Facebook] podem optar por não aceitar as recomendações. Além disso, a maioria dos usuários já aceitou as alterações [de privacidade] e outros usuários ainda receberão notificações para aceitá-las", de acordo com o advogado responsável pelo programa de direitos digitais do Idec, Michel Roberto de Souza.
O especialista acrescentou que as recomendações das autoridades brasileiras são "uma importante vitória parcial, mas apenas um pequeno passo para a proteção dos consumidores, dos dados pessoais e contra os abusos exploradores da concentração do poder econômico". Contactado pela ZDNet, o WhatsApp não respondeu aos pedidos de atualização do pedido das autoridades brasileiras.
Fonte: ZDNet